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14/03/2025

Sest Senat São Gonçalo lança programa de palestras sobre riscos das bets


14/03/25, Revista Ônibus

Palestras nas garagens das empresas abordarão educação financeira e saúde mental com foco nas apostas virtuais

Em uma iniciativa inédita, o Sest Senat São Gonçalo, em parceria com o Setrerj (Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro), desenvolveu um programa de palestras que combina educação financeira e saúde mental com foco em jogos on-line, que será ministrado na modalidade in company, nas garagens das empresas de transportes por ônibus da região de Niterói, São Gonçalo, Maricá, Tanguá e Itaboraí.

A ideia partiu de uma demanda real: a esposa de um rodoviário pediu ajuda na empresa em que o marido trabalha, porque o salário dele tem ficado quase todo comprometido com jogos em casas de apostas virtuais, as chamadas bets. Um dos dirigentes dessa operadora procurou o Setrerj para conversar sobre o problema. O Sindicato imediatamente levou a questão para ser analisada pela equipe do Sest Senat, que iniciou uma pesquisa e identificou a necessidade de um planejamento para a realização de um projeto que pudesse ajudar os trabalhadores na conscientização quanto à tentação do ganho fácil das apostas.

“Situação é grave”

O presidente executivo do Setrerj, Márcio Barbosa, alerta que “a situação é grave” e defende que as empresas e, em especial, as áreas de Recursos Humanos, precisam estar atentas a esse problema. “Está faltando arroz e feijão dentro da casa de rodoviários por conta de apostas virtuais. Quando apresentei a situação para a diretora do Sest Senat São Gonçalo, a ideia inicial era fazer um curso. Mas ela entendeu que a melhor maneira de chegar ao maior número de trabalhadores seria formatar um programa de palestras móvel, in company. Assim, a gente vai passar a ir às garagens para falar com os rodoviários sobre o assunto e mostrar os riscos que eles estão correndo ao iniciarem ou continuarem apostando seus salários nas bets, ressalta Barbosa.

No dia 12 de fevereiro, na unidade do Sest Senat São Gonçalo, as duas entidades reuniram cerca de 30 representantes de empresas de ônibus da área de atuação do Setrerj, para apresentar a proposta do programa. “A ideia foi muito bem recebida e já vamos colocá-la em prática em uma das empresas, como projeto-piloto. Tendo em vista todo o contexto desses jogos no Brasil, percebemos a importância de oferecer uma abordagem integral sobre o tema para ajudar motoristas e demais rodoviários endividados com apostas esportivas. Ao combinar educação financeira e saúde mental, podemos promover mudanças positivas e duradouras”, afirma Patrícia Viana Souza, diretora da unidade São Gonçalo do Sest Senat.

Problema de saúde pública

Os jogos on-line, já considerados um problema de saúde pública pelo Ministério da Saúde, são classificados por especialistas como uma ameaça que pode levar à dependência, assim como o álcool e as drogas. Psiquiatras e psicólogos afirmam que apostar é um comportamento sedutor e viciante, pois libera dopamina no cérebro, causando momentos de euforia e prazer e, consequentemente, levando à repetição do ato. E, como qualquer vício, pode gerar também episódios de ansiedade e depressão, com finais trágicos. O fato é que o brasileiro nunca gastou tanto em jogos como agora. “É muito fácil jogar on-line: você não precisa sair de casa ou de onde você está; basta pegar o celular. E isso em qualquer dia e a qualquer hora. As pessoas estão perdendo seus salários e o sustento dos filhos, gastando o que têm e o que não têm”, diz o presidente do Setrerj.

Uma pesquisa do Instituto DataSenado, divulgada em outubro passado, revelou que 42% dos brasileiros que dizem ter gastado alguma quantia em apostas esportivas ao longo de um mês estavam endividados, com contas atrasadas há mais de 90 dias. O levantamento mostrou também que homens até 39 anos, com ensino médio completo, são os maiores usuários de aplicativos de apostas esportivas no País – justamente o perfil de boa parte dos trabalhadores rodoviários. Entre os pesquisados que já fizeram apostas esportivas, 62% são do sexo masculino, 56% têm entre 16 e 39 anos e 68% exercem alguma atividade remunerada. A maior parte (52%) ganha até dois salários-mínimos e outros 35% ganham entre dois e seis mínimos. Outro estudo, publicado pela “The Lancet”, revista científica sobre medicina, alerta que 1,4% dos adultos do mundo têm o chamado transtorno do jogo, reconhecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).

Prejuízo atinge a economia

O prejuízo vai além dos lares afetando também a economia. Em 2024, segundo estudo divulgado em janeiro pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o varejo deixou de faturar R$ 103 bilhões porque os recursos dos cidadãos foram destinados para as bets. O mesmo levantamento mostra que os brasileiros gastaram cerca de R$ 240 bilhões em jogos on-line. Matéria da Revista Veja, também de janeiro, informa que o Governo Federal tem buscado uma maneira de mitigar esse problema e que o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal de Contas da União, com apoio de várias entidades, defendem regras mais rígidas para o funcionamento das bets.

Para tentar diminuir o problema, em julho passado o Ministério da Fazenda publicou uma Portaria regulamentando os jogos de aposta. A modalidade já era legalizada no País desde 2018, mas carecia de regulamentação. Em 2023, as regras foram sancionadas e, no começo de 2024, foi criada uma secretaria própria no governo para cuidar da regulação. Com isso, os sites legalizados terão sistemas de cadastro de usuários com reconhecimento facial, visando coibir seu uso por menores de idade, além de trazer maior controle sobre a identidade do apostador. Também ficou definido que as empresas devem avaliar a capacidade financeira dos apostadores para garantir que seus gastos não comprometam sua renda. As bets poderão suspender o uso do sistema de apostas caso o apostador apresente sinais de risco alto de dependência e de transtornos do jogo patológico.

Veja o original aqui.

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